segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Cego

Dizem que pior cego é aquele que não quer ver. Dizem que somos cegos quando renegámos quem nos quer bem. Dizem que somos cegos quando quem nos magoa está à nossa frente e nós não vemos. Quando se pergunta alguma coisa óbvia, riposta-se com “pergunta ao cego se ele quer ver”. Estar-se-ia à espera que o cego respondesse que sim, que quereria ver. Quem nasce com o dom da visão não se dá ao trabalho de contar a quantidade de vezes que durante a vida terá dito que desejaria não ter visto o que viu, ou aquelas vezes em que para não ver tapou os olhos e virou costas.

Por vezes eu gostaria de ser cego. Não daquele cego que renega quem lhe quer bem. Não aquele cego que não vê quem o magoa. Gostaria de ser daquele tipo de cego que não vê nem silhuetas, nem sombras. Que não veja nada.

Porque se meus olhos que vêem o sofrimento de quem é mais importante para mim nesta vida e não vertem uma lágrima, vejo mal.
No fundo dever-me-ia sentir orgulhoso. É das poucas coisas em que noto a minha excelência: ignorar a dor alheia. Basta fechar os olhos e virar costas. Sou bom nisso.

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