Sempre aprendi e desde há muito que tenho a percepção de “cobarde” como aquele que tem medo de sofrer dano, de “apanhar uma sova” porém, percebi por mim mesmo e não pelas definições que a sociedade impõe, que o conceito de “cobarde” vai muito para além daquilo que os outros despontam em nós: engloba também aquilo que somos capazes de fazer a nós mesmos. Tem medo de voar? Vá de carro. Tem medo de alturas? Fique em terra. Todas as soluções (mediante a existência de uma solução, raro é o problema que não tem uma) estão ao nosso dispor e no entanto ainda somos capazes de escolher aqueles cuja solução desconhecemos ou ignorámos, não pensando nela. Por que? Por que numa vida de cobarde, a única forma de existência de alguma coragem (deturpada) reside na infracção de dor a nós mesmos, quando nos envolvemos no impossível que pode facilmente ser parado.
“Eu conduzo a minha vida, posso sofrer o tempo suficiente para daí conseguir tirar igualmente alguns bons momentos, quando não compensar, páro.” – Embora nunca tenha proferido estas palavras em voz alta, acredito que ressoem constantemente na minha cabeça de cada vez que me envolvo em coisas e com pessoas que não devo. Para quê? Para passar tempo? Por pura diversão? Ou para provar a mim mesmo que consigo magoar-me antes que outros o façam?
Quando são os outros, o maior medo é o da dor física, a dor daquela sova que ficou escondida, daquela palavra que marcou uma pessoa por uma semana inteira. Quando somos nós, o medo é não saber quanta dor pode advir da nossa cobardia de pensarmos que conseguimos ser mais corajosos do que aquilo que realmente somos. Assim como o rufia da escola que quer quiséssemos quer não, estaria sempre lá para nos atormentar, as pessoa s que escolhemos para nos regozijarmos da nossa cobardia disfarçada não vão desaparecer simplesmente por que hoje nos sentimos como os cobardes que realmente somos e queremos parar de fingir.
Como afirma Hobbes e com razão, “O Homem é o lobo do Homem.”. Tantos anos culpando toda a gente pela nossa infelicidade quando somos nós que fazemos a cama onde nos deitámos todos os dias.
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