Se existe coisa que
prezo numa pessoa é a comunicabilidade da mesma. Não peço que seja nenhum
apresentador de programas da manhã que tenha de falar sobre tudo e sobre nada,
mas que pelo menos tenha um tema de conversa coerente e, se não o tiver que se
interesse por ouvir e que mostre que tal não é feito como uma espécie de
obrigação para se ter algo mais do que isso (diga-se sexo).
Quando aparece alguém
no meu caminho que consegue ouvir-me e fazer-se ouvir por três horas
consecutivas, é um misto de alegria e pena que me preenche.
Alegria por encontrar
no meio de tanta estrumeira, por durante três horas não estar a falar com um
corpo mas sim com uma pessoa, uma pessoa real que existe para além de uma cama,
de uma noite, de umas horas de prazer. Quando digo que sou conquistado pelo
intelecto deixando para trás o físico não deixa de ser verdade. O físico foi o
menos daquela tarde.
Não digo que ao
primeiro contacto não tenha pensado imediatamente que "não, não faz o meu
género" mas tentei ao máximo afugentar esse pensamento da minha mente.
Quando não se nasce especialmente favorecido pela beleza não se pode esperar
que venha alguma espécie de modelo fotográfico cruzar o nosso caminho de forma
propositada. Aliás se toda a gente pensase que merecia uma espécie de príncipe
eu seria a última escolha visto não ter um dote nem uma beleza fora do vulgar,
acho que seria um bom exemplo para aquela anedota:
"era uma
princesa tão feia tão feia que quem casava com ela não recebia um dote, recebia
uma indeminização."
Quem casar comigo
decerto merece receber uma também. Paga por quem? Não sei.
O meu lado práctico
queria ficar com ele. Sim, poupava-me muito tempo de procura. Mas a que preço?
À custa da felicidade de duas pessoas? Os gestos de que falou não são de alguém
que pense levianamente sobre as relações que se estabelecem entre duas pessoas.
Se alguém se dispusesse a fazer o mesmo por mim sentir-me-ia decerto como uma
espécie de mundo para alguém quando actualmente pareço ser um
"ninguém" num mundo que a ninguém pertence.
Uma parte muito
inocente de mim há uns tempos faria de tudo para ter alguém fosse qual fosse o
sentimento nutrido pela pessoa em questão. Hoje feliz ou infelizmente não me
consigo resignar na busca de afecto, não consigo ser comodista, ficar com a
primeira pessoa que apareca.
Dei por mim a querer
prolongar uma despedida que deveria querer rápida e indolor. E foi-o deveras,
não soube a nada. Ainda bem. Se fosse um sabor sentido apenas por um dos lados.
Não se combina nada, não se diz nada, simplesmente espera-se que o sentimento
de uma tarde bem passada tenha sido reciproco.
E, espera-se que,
enquanto não aparece ninguém para preencher o coração, possa existir sempre
alguém para preencher a cabeça de coisas que façam rir ao invés daquelas que
nos últimos tempos só têm dado para chorar.
isto foi deveras sentido.
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