Do Tempo E Das Qualidades

Vejo muitas pessoas [praticamente todas] a afirmarem que com o tempo se tornaram pessoas melhores, que aprenderam com os erros, que se aprenderam a conhecer melhor, os seus limites, os seus gostos, no que são boas, no que são más, conseguindo traçar uma espécie de perfil cronológico de si próprias.

Recentemente descobri que não consigo fazer isso comigo mesmo, não sei se é defeito, se é normal a todos depararem-se com este tipo de dúvida com que me deparei. Tenho vinte e dois anos mas parece que o que penso, os meus valores, são os mesmos de há um ano, de há dois anos, às vezes desde sempre. Claro que aprendi algumas coisas, ou, dizendo melhor, tomei conhecimento delas. O facto de ter descoberto certas facetas das pessoas não fez com que aprendesse a lidar com as mesmas e por isso mesmo me deparo com mal entendidos de tempos a tempos. 

Acima de tudo me vejo actualmente a perder uma das qualidades [uma das poucas, senão a única] que mais prezava na minha pessoa: a capacidade de ouvir/ler os problemas alheios como se fossem meus próprios. Ás vezes ouvimos dizer: "Queixas-te disto e daquilo, mas se tivesses x ou y então tu verias o que é..." e começo a acreditar deveras nisso. Curiosamente o(s) problema(s) que levaram à perda desta minha qualidade não são da minha pessoa mas sim de uma pessoa que amo [acho que é a primeira vez que uso este verbo em quase três anos de blog] e mesmo sem ter vertido uma lágrima por causa disso, percebo agora que tal problema me afectou de tal modo que me fez perder a qualidade que mais prezava em mim. Não que esteja a culpar inocentemente quem nada fez para que isto acontecesse, mas adoraria poder ser o rapaz dos dezoito, dos dezanove, dos vinte anos, que sofria [estupidamente ou não] mas que tinha sempre dois ouvidos e uma boca para os problemas dos outros [e para os seus próprios]. 

Acredito que o tempo acaba por mostrar o melhor e o pior nas pessoas. Mas se me tirou o melhor, fiquei com o quê?