Os Almoços Cá Em Casa

Já tive o [des]prazer de vos falar dos fantásticos jantares que se têm cá em casa por isso [e para contrabalançar] irei falar-vos dos mórbidos almoços que ocorrem aqui. É quase como naqueles filmes em que as mesas são tão grandes que as pessoas não conseguem chegar uma à outra.

Com a minha mãe a trabalhar em turnos e a minha irmã na escola, na maioria das vezes almoço sozinho com o meu pai o que acaba por tornar o nosso almoço numa espécie de "jogo do sério" no qual parecemos ser verdadeiros prós e espero sinceramente que se um dia nos dedicarmos ao sacerdócio encarem os nossos almoços como uma espécie de "votos de silêncio" adiantados. 

Mas é praticamente impossível o senhor meu pai permanecer calado durante toda uma refeição e portanto tem de abrir a boca para dizer mal de alguma coisa ou de alguém. Quando estámos sozinhos o único tema sobre o qual se debruça é o governo e as 1001 maneiras que este tem de tramar quem trabalha.

Claro que se eu abrir a boca me diz logo que eu não sei nada da vida e que ele está a trabalhar para mim [e por aí fora, já viram este filme de certeza no conforto das vossas casas] portanto eu continuo a almoçar impávido e sereno. Depois fala que é normal existirem pessoas que se licenciam e tiram o mestrado anos depois e para eu não ficar desanimado por não o tirar agora pois provavelmente terei hipóteses de o fazer num futuro não muito distante. Claro que a minha vontade mal ouço tal coisa é rir-me na cara dele, como se eu depois de me livrar de anos e anos a queimar os meus neurónios fosse cair na mesma esparrela novamente.