terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

20 Anos De Uma Casa

Num momento de pura introspecção o pessoal apercebeu-se de que estámos cá em casa há praticamente vinte anos. Geez, vinte anos, é uma vida!

Lembro-me de viver em casa dos meus avós maternos, a maioria das pessoas hoje em dia já nasce numa casa própria, com as suas coisas, eu vivi os primeiros anos da minha vida confinado a uma cozinha e um quarto, duas divisões separadas, e para passarmos de uma para a outra tínhamos de sair para a rua, ou seja, em tempo de chuva, era uma festa.
Tinhamos apenas uma cama e quando acordava aos fins-de-semana via os desenhos animados aninhado no meio dos meus pais. Uma das primeiras recordações que tenho é de cair ao campo das batatas quando ia a correr atrás do meu avô, acho que foi assim que fiquei aparvalhado, ainda mais do que aquilo que seria se não tivesse caído na altura.

Quando nos mudámos para a "nossa" casa a maioria das coisas não estava sequer lá. O meu móvel teve de entrar pela janela [o que, se considerármos que a janela do meu quarto equivale a um segundo andar, é assustador] e a primeira televisão que tive foi dada pela minha avó materna que tinha dado uma a cada um dos netos. A minha irmã nasceu já com quarto mobilado [o chamado "quarto dos arrumos" até então] e nunca soube o que era ter de partilhar a casa com mais duas pessoas.

O jardim em frente da casa já foi composto somente de pedras e a rampa que se estende até à garagem já foi um monte de pedras pequeninas que magoavam se lá andássemos de chinelos.

As duas pinturas que se fizeram foram feitas pelo meu pai  [ele faz tudo, só não fez um filho em condições], na primeira esteve um colchão estendido na sala enquanto os três [na altura a minha irmã ainda nem existia] nos aninhávamos a ver o "Chuva de Estrelas" enquanto o cheiro a tinta reinava nas outras divisões. 

A porta da garagem já foi feita somente de madeira e fechada loucamente por mim quando um galo mau que tínhamos aqui insistia em picar-me as pernas, fazendo-me chorar que nem uma madalena.

Só há meia dúzia de anos foi possível comprar mobília de sala, os antigos sofás estavam completamente rotos nos braços por a minha excelência adorar lá fincar os pés enquanto via televisão. Agora basta ter-se um pé em cima dos sofás novos para a minha mãe deitar as mãos à cabeça e desatar a contar o quão caros foram os ditos cujos. 

Tiveram ainda a brilhante ideia de colocar uns aparelhos de ar condicionado há uns anos, o que para muitos é uma extravagância, embora no Verão todo e qualquer dinheiro que se tenha dado por eles se justifique pois sem eles seria morte certa por insolação. A minha mãe lamenta-se desde então por não ter colocado ar condicionado na cozinha. E não irá parar enquanto não colocar lá um.

Passados vinte anos a minha mãe ainda não desistiu da ideia de fazer uma escadaria interior do sótão até à garagem e de fazer um salão na dita garagem. Acho que podem passar-se mais vinte anos e nunca teria a  casa como quer, no final de contas uma pessoa tem a casa que pode e não a casa que quer. Mas é a nossa casa [quer dizer, é do banco ainda, por enquanto].

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