Quando Os Papás Me Tentam Arranjar Trabalho

[imagem sob cortesia da Super Sónia]

Ando eu quatro anos a tirar um curso para acontecerem cenas como a de há bocado para me apetecer pegar numa pistola e dar um tiro nos cornos. 

Os meus pais sabiam que eu só tinha jeito para letras, deram-me a sua bênção e lá fui eu. Mas para o tipo de pais que não fazem ideias de que letras é mais do que aquilo que se aprende no ensino obrigatório, nem por isso se interessavam minimamente sobre aquilo que eu aprendia na Universidade. Só para terem uma ideia acho que o senhor meu pai meu pai só soube ao certo o nome do meu curso no terceiro ano, três anos para decorar a porra de três palavras, dasse. Para eles o que interessava eram as notas, se eu passava era a minha obrigação, se eu reprovava era uma tristeza por que tinha querido fugir da matemática e mesmo assim continuava na merda [ando muito malcriado, as minhas desculpas]. Se queria partilhar algo eram coisas demasiado técnicas, logo dispensáveis da parte deles.

Com isto cheguei eu até aqui, licenciado e sem emprego. E para onde pensam os meus pais que vão os desempregados? Para os centros de estudo. Ainda há bocadinho saiu o senhor meu pai a falar sobre a possibilidade de eu ir dar umas horas num centro de estudo. Apeteceu-me gritar a plenos pulmões: " - E vou lá para aprender ou para ensinar?" A sério é uma estupidez de todo o tamanho, vou ensinar o quê? Morfologia? Fonologia? Teoria da Literatura? Não, vou ensinar latim que demorei quatro anos a acabar? Que mania esta de que qualquer pessoa pode ir para um centro de estudo ensinar os miúdos.

Alguém que explique aos meus pais [eu já não consigo, é muita coisa para mim] que quando um MESTRE [não estou a falar de um licenciado] vai para um centro de estudos é por que está a par dos programas leccionados na escola e tem na docência uma parte integrante da sua formação ao contrário de mim?

Dasse, isto a juntar à roupa que tive de estender e à loiça que tive de lavar tornou o meu dia muito mais interessante.