Um dos meus [muitos] defeitos é, em linguagem corriqueira, a vontade de não fazer um corno. E não preciso que mo lembrem, faz-me sentir mal, é quase como lembrar a um pedófilo que ele é pedófilo, ele sabe o que anda a fazer e não se sente mal até que lho digam, aí erguerá as sobrancelhas e porá o seu ar mais chocado. Eu não fico chocado quando me dizem que sou preguiçoso, tanto que não faço por mostrar o contrário. Ou melhor, faço. Tenho um pai que gosta muito de mim [se não gostasse eu não estaria a escrever isto agora, quem me pagaria a conta da internet?] e que me dispensa de 99% das tarefas domésticas com o problema de me atirar isso à cara de dois em dois dias. Então eu hoje quis ser prestável e ajudar na jardinagem, uma vez sem exemplo, ninguém morre [já agora, a minha carta de condução até ao momento só me permitiu ter o privilégio de lavar o carro, quanta honra hein?], quando para meu jubilo me comunicam que o jardim necessitará de ser regado duas vezes por dia e que eu terei a enorme honra de comandar as hostes da mangueira. É mau, é muito mau. É que mais do que regar o jardim, rego-me a mim também. E de certeza que não ficarei mais verde ou mais bonito à conta da água que irá cair em cima de mim. Com um bocado de sorte ainda morro estrangulado pela mangueira por acidente.