Eu sou daquelas pessoas que está sempre a queixar-se de que aquela hora está a demorar a passar, que o fim-de-semana nunca mais chega, e depois, num abrir e fechar de olhos, zás, passou uma semana, um mês, e voilà, chega o final do ano. Ocorreram eventos que, se inicialmente os classificaria simplesmente como "bons" ou "maus", hoje consigo tirar um bocadinho dos dois de cada um deles, e acho que isso é bom. É bom não é?
No entanto antes de começar a deitar tudo cá para fora, queria fazer um agradecimento, que provavelmente a pessoa não estará a contar.
O meu público deste ano foi completamente diferente de todos os outros anos, e se vos tenho a muitos de vós aqui devo-o ao Namorado. Sem a tua mãozinha não teria conhecido (embora no sentido virtual) todo este pessoal simpático, o Goodblog Badblog, o Francisco, o Horatius, o Limite Do Oceano, o Miguel, e por aí fora. Obrigado :)
Embora tenha estado empregue durante a maior parte do ano, ao longo de todos estes meses, desenvolvi uma volúpia de mudar que antes não possuía. Se me perguntassem há uns meses se não me importaria de fazer o que fazia para sempre, eu provavelmente daria uma resposta afirmativa. Não mais. Isto não implica a que não volte para lá caso tudo o resto falhe, e, se assim for, darei o melhor como sempre dei àqueles que sempre me ajudaram. Mas cheguei à conclusão de que, modéstia à parte, devido às minhas capacidades, que tenho vontade de ser, de fazer mais. Não só pelo dinheiro, mas também pela realização pessoal, pela construção de uma carreira, do ganho de uma liberdade que infelizmente ainda não tenho. Portanto este período (curto, assim o espero) de desemprego, longe de ser o fechar de uma porta, leva à abertura de muitas outras.
Longe de ter uma saúde de ferro (asma alérgica, miopia, macrocefalia) nunca na vida, por muito que esta tivesse sido complicada para mim, sonhei que iria estar a braços com uma depressão. O fato de lhe chamarem "a doença da moda" em muito contribuía para a desmerecer enquanto estado psicológico e físico e tinha uma ideia muito estereotipada dos doentes de tal mal.
Não sei até que ponto posso comparar aquilo por que passei ao que outros passaram. Andei com os meus braços em ferida de tanto esgravatar, com os dedos completamente arranhados até não poder mais. Dias houve em que não falava por causa dos nervos, abria a boca e não saía nada. Para alguém que, na altura, estava em frente ao público podem imaginar o quão frustrante (e divertido convenhámos) era trabalhar em tais condições.
Sei que agora se tem muito a ideia da "bicha sentimental" e posso dizer que se passavam anos e anos em que não vertia uma lágrima, mesmo quando as coisas me corriam mal. E muitas coisas correram mal durante todos estes anos.
Mas não foram poucas as vezes que, durante este período menos bom, fui a chorar para o trabalho, chorava no trabalho, em casa, enfim. Acho que chorei tudo que tinha para chorar e ainda mais um bocado.
Recebi apoio de pessoas com quem não contava e foi-me negligenciado apoio da parte de quem eu acreditava que mais me apoiaria. E isso custa muito.
Ainda há dias me disseram que, é comum com o passar dos anos, por volta da mesma altura do ano, existir a tendência para me deixar ir abaixo de novo. Mas eu sei, sempre soube a razão da minha quebra, e aprendi que, e agora esta é lamechas mas tem mesmo de ser (e vai ser mesmo lamechas) que homem nenhum vale uma lágrima que eu chore. (acabaram de ler a frase mais pirosa de 2015, não procurem mais).
Falando de homens, que é o que interessa a muita gente, eu acredito ter uma vida amorosa bem desinteressante, embora não saiba até que ponto estou "dentro da normalidade" no que a relações diz respeito.
Nunca fui um "speed dater" e primeiro que se passe alguma coisa de relevo na minha vida amorosa, é um projeto maior do que o do TGV.
Ao longo de, hum, dois meses? sai com o N, e ajudou-me a perceber que, afinal, sou tão apressado a fazer julgamentos como todos aqueles que criticava, e que, ao ter dado uma oportunidade às coisas, estas correram bem até certo ponto. Deve ter sido o homem com quem mais me identifiquei até hoje, culto, com um sentido de humor tão bom ou melhor do que o meu, mas foi uma maneira de confirmar a velha máxima de que "quando um não quer, dois não fazem" e de que não acredito, de todo, nos sms's de bons dias e nas mensagens ao longo do dia, por dias, semanas, quando as coisas nada mais não são do que um conhecimento mútuo. E que estas podem terminar tão depressa quanto começaram.
Logo seguido veio o A, não sei se foi por surgir ainda no rescaldo da desilusão com o N ou devido à sua abordagem mas mexeu comigo de formas que mais ninguém tinha conseguido ao longo de toda a minha vida. Via tanta gente a apontar-me o dedo devido ao meu fraco desejo sexual, à minha estranha passividade relativamente àquilo que me dava prazer que começava a pensar que devia ir para um mosteiro e entregar a minha alma condenada a quem quer que fosse.
Posso só dizer, visto que estou entre gente grande (e mesmo as mulheres não ficarão tão chocadas quanto isso) que ao longo de vinte e cinco anos nunca tinha ficado excitado com o simples vislumbre ou toque de um homem (não na intimidade) mesmo sendo eu gay da cabeça aos pés, óculos e lentes incluídos?
Dei por mim em momentos embaraçosos, onde andar se tornou numa missão quase impossível, se é que me faço entender.
Por ele abdiquei de muitos dos meus princípios, das ideias que tinha relativamente ao tipo de pessoa que queria ser, e do que queria para mim.
Tornei-me no tipo de pessoa que tinha jurado nunca vir a ser. Cedi a um estilo de vida que jurei nunca adotar por sentir que nenhum prazer justificaria o abandono da dignidade ou amor próprio.
Mas aprendi (ou pelo menos acredito ter aprendido) a separar as águas, a tirar o proveito sem me sentir usado.
Ultimamente tenho sido movido por uma adrenalina que não tem origem no caráter ou palmo de cara de alguém mas sim na interação sexual. E não me importa que não consiga tirar mais nenhum proveito desta relação (ralação) que já me fez passar as passas do Algarve.
Ele é o único capítulo da minha vida que deixo aberto este ano, por que é algo que precisa mudar.
E que 2016 traga força de vontade para mudar esta e muitas outras coisas na minha vida. E nas vossas também. Bom 2016 para todos :)